sexta-feira, 8 de julho de 2011


George Vittorio Szenészi

"Inteligência sem emoção não funciona"
O psicoterapeuta diz como a capacidade de lidar bem com os sentimentos ajuda a ter sucesso na carreira e assegura que as empresas que constroem ambientes harmoniosos são mais produtivas
Cilene Pereira
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MÉTODOS
Szenészi ensina técnicas capazes de eliminar
emoções que atrapalham o processo de decisão
A maioria dos estudos realizados para descobrir o perfil do profissional de 
sucesso
 revela que ele deve ser capaz de se relacionar bem com os companheiros 
de trabalho.
 Isso implica habilidade para ouvir, falar de maneira clara, evitar 
rompantes de irritação
 ou outras situações desagradáveis e compreender as emoções do outro. 
Ou seja,
 ter o que os especialistas chamam de inteligência emocional no trabalho. Afinal, 
não basta mais apenas ser um profissional com excelente conhecimento 
sobre sua área. 
É preciso saber lidar com suas emoções – e com a dos outros – para que o desempenho 
seja melhor.

Trata-se de um conceito cada vez mais debatido no mundo do trabalho. Está 

comprovado que quanto mais os funcionários trabalham em harmonia, maior a 
produtividade. Consequentemente, mais significativos são os lucros. “Estamos 
assistindo a uma mu­dança importante. No passado, montadoras como a Ford e a 
Volvo tiveram influência como modelos no processo produtivo. Hoje, grandes
 empresas 
de tecnologia estão estabelecendo novos exemplos para as organizações humanas”, diz o psicoterapeuta George Vittorio Szenészi, 64 anos. Consultor, participante de programas e palestras de desenvolvimento para executivos e profissionais e coaching emocional – 
ajuda na administração de emoções no desempenho pessoal e profissional –, ele deu 
a seguinte entrevista à ISTOÉ, de seu consultório, em Florianópolis (SC). 
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"Uma pessoa em estado de irritação não está
em condição emocional própria para tomar decisões"
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"Crianças criadas ouvindo regras que impediram a manifestação
dos sentimentos têm mais dificuldade de lidar com eles"
Istoé -

No que se concentram os es­tudos de inteligência emocional?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Eles buscam entender o peso 
e os efeitos 
que as emoções têm na habilidade de cada um para lidar com o cotidiano
 pessoal e profissional.
Istoé -

Qual a relação do conceito com o mundo do trabalho?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Os estudos apontam que os 
sentimentos, 
os valores e as preferências individuais e os relacionamentos têm impacto fundamental na vida pessoal e profissional. Indicam ainda que a performance 
não depende apenas do quociente de inteligência (QI): pessoas com QI alto 
podem ter menos sucesso no trabalho do que aqueles com QI inferior à média. 
Istoé -

O que caracteriza um profissional sem inteligência emocional para
 o trabalho?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Pessoas com inteligência emocional pouco desenvolvida têm dificuldade para estabelecer uma relação harmônica com 
os outros. Podem ser incapazes de ouvir. E esse é um grande desafio – 
elas têm imensa dificuldade para abrir mão temporariamente de suas 
convicções apenas para entender os outros. 
Istoé -

Há outras marcas?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
É comum não reconhecerem
 suas emoções. 
E essa habilidade é fundamental para um bom profissional. 
Ele deve saber 
quando está sob o domínio de sentimentos e que, por isso, precisa evitar 
decisões, adequar comportamentos e mudar atitudes. Uma pessoa em 
estado de euforia, irritação ou frustração não está em condição emocional 
própria para tomar decisões.
Istoé -

Qual a relação entre as emoções e as decisões? 
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Há ligações entre os
 circuitos cerebrais responsáveis pelo processamento das 
emoções e os circuitos do raciocínio e da tomada de decisões. 
O que podemos afirmar é que inteligência sem emoção não funciona. 
Istoé -

Por quê?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
As emoções fornecem os critérios 
norteadores do processo racional. Toda decisão se dá num “molho emocional” 
no qual se situam as preferências, os impactos das experiências passadas, os 
valores pessoais e organizacionais, critérios como urgência ou qualidade. 
Não existe inteligência efetiva sem vida emocional efetiva. Pessoas 
emocionalmente instáveis tomam decisões, frequentemente, inadequadas. 
Istoé -

Como age um profissional com pouca inteligência emocional no relacionamento
 com os colegas de trabalho?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Ele possivelmente não sabe lidar de 
maneira compreensiva com a emoção dos outros. Enxerga mais a si do 
que o outro. Muitos têm dificuldade de saber quando o outro está num 
momento para ouvi-lo e perdem excelentes oportunidades para se calar ­–
 e falam, sem perceber que sua fala não está chegando ao principal “órgão 
decisor” de qualquer um – o coração.  
Istoé -

Por que parece haver tantos indivíduos com baixa inteligência emocional
em cargos de chefia?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Há alguns fatores envolvidos nisso. 
Se sou um diretor de uma empresa e não tenho sensibilidade para essa 
questão, não vou reparar que um gerente meu, por exemplo, não trata 
bem sua equipe. Em geral, essas pessoas trazem resultados, o que faz 
com que a companhia releve sua dificuldade de relacionamento. Mas aí 
reside um grande equívoco. Se o gerente usasse mais sua inteligência 
emocional, sua equipe produziria mais com menos estresse, com mais 
energia e utilizando seu tempo com maior eficácia.
Istoé -

O que o subordinado de um chefe sem QI emocional pode fazer?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Ele deve usar a sua inteligência 
emocional para entender como seu superior funciona, o que precisa 
fazer para ser ouvido, como criar momentos para tratar do tema que 
deseja.
Istoé -

As empresas estão mais atentas ao peso dos sentimentos no 
desempenho de seus funcionários? 
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Estão mais atentas a 
certos aspectos 
da questão, como os relacionamentos, a solução de conflitos e o 
desenvolvimento de lideranças. Não me parece que olhem 
especificamente 
para os sentimentos, a não ser nas pesquisas de satisfação 
no trabalho, 
que com frequência geram mais relatórios que medidas efetivas.
 Olham 
para a motivação, mas nessa área boa parte ainda busca correções 
por meio 
de “palestras de motivação”. Desconhecem que a motivação que 
faz diferença 
é a oriunda das preferências, dos desejos pessoais e dos estilos de
 cada um, 
e não de um palestrante que transfere o seu entusiasmo para os ouvintes.
Istoé -

O que as companhias perdem em não contemplar esse aspecto?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Perdem sua energia – a disposição de cada colaborador – , seu tempo – mal usado pelos desgastes humanos e menor 
qualidade do trabalho – , e seu dinheiro, investido nas pessoas que oferecem 
menos do que poderiam. Se uma companhia constrói um ambiente que 
auxilia seus colaboradores a lidar com seu lado emocional – o que significa 
ajudá-los a saber o que fazer com as emoções ruins, a ouvir, a falar, a 
compreender o outro, a desenvolver a paciência – , certamente irá 
crescer muito mais. Se o ser humano ficar mais livre para expressar
 sua alegria e bom humor, seu afeto e prazer com coisas da vida 
organizacional, a sua criatividade, inventividade, flexibilidade e a 
saúde física e mental terão ganhos extraordinários.
Istoé -

Há como medir o que elas ganhariam investindo no fortalecimento
 emocional dos funcionários?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
É difícil mensurar. Mas cerca 
de 70% dos problemas têm relação com dificuldades de comunicação,
 por exemplo. 
Muitos chefes não sabem ouvir, não têm clareza na comunicação, distorcem informações, funcionam mais por julgamentos do que por observações, 
valem-se da autoridade mais do que da persuasão informada, buscam a
 obediência mais do que o compromisso da equipe. Porém, em equipes 
que trabalham seu equilíbrio emocional, a produtividade é maior.
Istoé -

O que leva uma pessoa a não desenvolver inteligência emocional?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Temos que entrar na história das 
emoções para chegar a essa questão. Trata-se de um processo
que começou 
a ser desenvolvido há milhões de anos a fim de garantir respostas
 rápidas 
para a sobrevivência da espécie. A emoção é uma reação do corpo 
em resposta a eventos da vida. Reagimos com emoções quando 
estamos diante de situações interpretadas pelo cérebro como
 oportunidades que apoiam a vida pessoal e a continuidade do 
indivíduo e da espécie ou como ameaças à sua integridade. São 
alarmes que avisam e nos predispõem para a ação. Quando
 agradáveis, nos 
dizem para continuar. Quando desagradáveis, nos avisam 
que algo ameaça a integridade da vida ou da continuidade 
da espécie. Foram úteis no tempo dos predadores e das
 forças desconhecidas da natureza. A construção da civilização
 interferiu nisso.
Istoé -

De que maneira?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
As sociedades criaram normas de “boa educação”, incluindo a regulação da manifestação das emoções. 
A raiva, 
o medo, o amor, começaram a ser mediados pelos códigos de 
boa conduta 
e até pela religião. Quando o bebê começa a manifestar raiva, 
por exemplo, é ensinado com um tapa na mão que não pode ter 
esses acessos. 
Istoé -

Qual a consequência disso?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
O ser humano desenvolveu outras formas 
de ter sua vida emocional. Descobriu que podia ter medo e raiva, mas sem 
mostrar. E criou emoções substitutas, socialmente aceitas. Em vez da raiva, 
surgiram o ressentimento, a mágoa, a irritação e o ódio, às vezes o ciúme ou a arrogância. Para substituir o medo veio a ansiedade, a indecisão. No lugar 
da tristeza, a saudade, a solidão.
Istoé -

Esses sentimentos são piores do que os outros?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Sim. As emoções naturais, como a raiva, 
a alegria, são intensas. Surgem, ativam o corpo para reagir e desaparecem. 
As que as substituem são menos intensas, porém ficam por dias, meses, anos. 
Os sentimentos substitutos continuam lá, nos pedindo para serem trabalhados 
para que possam chegar ao fim. Eles impedem que os eventos que os guardam 
na memória sejam integrados ao acervo de experiências que geram a autonomia, 
a flexibilidade e as capacidades que aumentam nossa habilidade de lidar com 
a vida.
Istoé -

Por que alguns têm mais inteligência emocional do que outros?
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Faz parte da educação que cada 
um teve na infância. Crianças que foram ensinadas a lidar com as 
emoções, para as quais foi permitido que os sentimentos naturais 
viessem à tona e ao mesmo tempo aprenderam a administrar essas
 emoções colocando-as sob a orientação do
 respeito a si, ao outro e à coletividade, tornam-se adultos com maior
 inteligência emocional. As que foram criadas ouvindo regras que
 impediram a 
manifestação dos sentimentos apresentam mais dificuldade de lidar
 com seus estados emocionais.
Istoé -

Como usar as emoções de maneira adequada? 
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Temos que aprender a capacidade de 
fazer uma emoção desagradável desaparecer rapidamente. 
Veja o problema da indecisão: não é a análise das alternativas
 que vai fornecer a solução. 
O problema é a indecisão em si, que é um medo não expresso. 
Elimine o sentimento da indecisão e a sua mente, acalmada, 
ficará livre do medo oculto e você tomará a melhor decisão.
Istoé -

Quais os métodos que ajudam a fazer isso? 
GEORGE VITTORIO SZENÉSZI -
Há técnicas e práticas como a 
meditação capazes de dissipar sentimentos ruins muito rapidamente. 
Elas ajudam a olhar para o evento da forma que teria acontecido se tudo
 tivesse dado certo.