segunda-feira, 28 de março de 2011

Tristeza

Diz o grande sábio Salomão em Eclesiastes, Eclesiástico ou livro do pregador, que a tristeza muitas vezes é melhor que a alegria; que o luto é melhor que festa. Pode parecer loucura pensar assim, ainda mais quando lemos tais passagens em momentos em que nossa fase de vida está de vento em pompa, onde as contas estão pagas, a família saudável, os amigos presentes e afetivos, a alma curada, restaurada, onde a consciência pecaminosa está enjaulada, enclausurada numa masmorra, quando o carro está com suas prestações pagas, seus acessórios tão sonhados incluídos nele, quando a casa está com a reforma tão almejada já pronta, quando os vizinhos são harmoniosos e fraternos, quando o seu chefe o elogia, o gratifica ou até mesmo o promove, quando boas notícias veem como e-mails em forma de corrente, quando você recebe o “sim” de sua (seu) amada (o) para namorar ou casar... Mas quando lemos esta passagem por exemplo justamente quando estamos passando por problemas, contrariedades, aversões das pessoas, más notícias, desemprego, alcoolismo, vício pessoal ou por algum ente querido ou amigo, quando as dívidas abarrotam as gavetas de contas e lhe conseguem tirar o sono e a paz, quando os ditos amigos lhe abandonam como as moscas fazem quando a limpeza chega em meio a sujeira ou quando a luz se acende e a treva se dissipa,quando as acusações lhe atormentam ou a consciência pesa por alguma razão peculiar, quando o vencimento do aluguel se aproxima e lhe falta o dinheiro para pagá-lo e não há mais o que fazer para dar ao credor, quando há dissensão entre a vizinhança ou clima está mais do que tenso em seu serviço a ponto de isolar-se e diminuir sua produtividade, ao ler este trecho você até se aproxima (ou tenta) do sentimento que este sábio homem estava ao escrever. O homem considerado o mais sábio e mais rico de toda a terra, cujo outro nunca mais haverá, não escreveria tais palavras tomado por um súbito surto e o Espirito Santo, o que o inspirou, não permitiria tal infortúnio se tais palavras não fossem reais . Realmente, quando nos apercebemos de que a tristeza é melhor que a alegria muitas vezes e que o luto é melhor que a festa começamos a analisar e meditar na certeza disso tudo que Salomão disse.   


A tristeza não chega aos limites citados na situação depressiva. Pelo contrário, é uma ferramenta valiosa para avaliação das metas de vida. Na infância, o modo de encarar a tristeza será definitivo para estabelecer a personalidade adulta.
   Infelizmente, na cultura ocidental não valoriza-se os aspectos emotivos. Assim, um indivíduo se desenvolve crendo que a tristeza é um sentimento negativo, que fragiliza e expõe a personalidade. Por exemplo, uma pessoa insatisfeita num âmbito social sente-se triste, mesmo não tendo uma concepção nítida do que é a tristeza. Neste momento cria-se uma dívida com o próprio passado; o elemento sente que poderia ter aproveitado melhor as outras oportunidades que teve, e que agora o fazem um homem fracassado.
O descaso com os valores humanos acabam por expor o homem contemporâneo ao negativismo, e a busca excessiva pelos bens materiais e status social, compensa a carência sentimental, mas por outro lado, contamina e deturpa a noção de humanismo. Neste caso, a tristeza é apenas uma bússola que aponta a área emotiva mais afetada. Porém, outros sentimentos como o medo e a inveja funcionam como um alerta ao modo de vida desumano. A aceitação do fracasso e da fragilidade fica comprometida, já que o indivíduo direciona o motivo dos seus insucessos a outras causas, quando na verdade seriam apenas conseqüências. Portanto, fica claro que existe uma "auto-sabotagem".
O egoísmo exacerbado, no qual o homem é induzido desde a infância, produz um vazio pessoal. Porém, o bem-estar esta diretamente ligado a satisfação alheia. Se não houver a solidariedade, ou seja, a profunda preocupação com o próximo, o citado "vazio da personalidade" irá expandir-se. A tristeza ocupa este espaço e desmotiva o indivíduo a dar continuidade na busca de qualquer outro valor.
Outro fator que fortemente desencadeia a tristeza é a recusa. A dificuldade em aceitar o "não" torna-se desmotivante e abala a auto-estima. Por outro lado, a rejeição e a incapacidade frente a alguns obstáculos leva a quadros mais sérios e profundos da tristeza.
Várias correntes de discussão psicológica determinam os ganhos secundários do estado de sofrimento. É notório que o indivíduo que sofre, desperta comoção no ambiente, neste caso a atenção dispensada por outros faz com que o indivíduo sinta-se acolhido. Cultivar a tristeza é apenas fazer a manutenção desse estado de atenção e acolhimento despertada, é manter-se afastado e protegido da competitividade e ambição que norteiam a sociedade contemporânea. Mas na maioria das vezes, a solidariedade e o altruísmo são hipócritas, porque a necessidade da auto-superação e status social faz com que o sentimento de comoção seja verdadeiro, mas o apoio sincero é substituído pelo prazer na derrota alheia. Assim, esta afirmação é concretizada pelo fato de que o assistencialismo não supre as carências afetivas; é apenas um retórico inconsciente que absolve a obrigação da solidariedade.
Geralmente os indivíduos que sofrem de tristeza tem como característica básica de personalidade, impor a sua solidão pessoal para todas as pessoas que encontrarem no decorrer de suas vidas; como uma vingança contra seu sentimento que o martiriza. Assim, tornam-se retraídas, ciumentas e possessivas. Na questão sentimental, impõem ao parceiro uma eterna espera pela doação de seu lado afetivo.
Embora muitas vezes sofremos com determinados relacionamentos, sabemos que a perda pode nos custar ainda mais caro. O maior obstáculo para qualquer tipo de mudança é a desconfiança quase que absoluta em nosso potencial, gerando um receio imenso sobre se conseguiremos construir algo; se os ventos estarão ou não a nosso favor; se o destino ainda poderá nos reservar um mínimo de satisfação perante todo o pesadelo diário em que muitas pessoas vivem.
  A tristeza é um sentimento intrínseco ao ser humano. Todas as pessoas estão sujeitas a tristeza. É a ausência de satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com sua fragilidade. A tristeza muitas vezes é saudável e mais pertinente que a própria alegria, pois ela nos faz meditar e avaliar questões em que possivelmente houve uma certa frustração numa determinada área de nossa vida.Ela nos faz analisar os erros e ensina a ponderar onde houve equívocos pessoais ou interpessoais, trazendo sobre nós aprendizados valiosos e indescritíveis. Não quero de modo algum suscitar este negativo sentimento, mas quero procurar fazer com que você entenda que este não é um monstro, uma doença onde as pessoas olham você com as características tristes e já imagina que estamos com uma doença terminal. A tristeza, assim com a alegria é importante para nós. No entanto, ela não é ponto de parada e permanência, para que não se agrave o quadro deste sentimento e não se adquira um mal pior, como depressão por exemplo, mas é ponto de pausa, meditação e avanço progressivo rumo à alegria. 

 Há características explícitas de uma pessoa que mostra estar triste e são: percebe-se um certo alongamento na face como se estivesse sendo puxada para baixo. A cabeça pode inclinar-se um pouco em um dos ombros. Além disso, geralmente a pessoa tem o rosto pálido e sem cor. Surgem também rugas horizontais na testa. Os cantos interiores das sobrancelhas se erguem, e as pálpebras superiores podem se abaixar. Unida a esse conjunto, a boca tem os seus cantos levemente caídos. Quando o queixo se eleva fica ainda mais marcante a descida da boca.

 Luciano Santos

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